3. Nova ou usada?

3. Nova ou usada?

Todo mundo, ao perguntar que câmera deve comprar, já pesquisou alguns modelos e cotações de câmeras novas e está no fundo esperando que alguém responda corroborando seu palpite inicial. Pois eu vou contra a corrente. Você pode discordar à vontade, mas antes analise a minha lógica e veja se ela não tem um certo embasamento.

Em resumo: Para aprender e praticar, eu compraria de um amigo profissional uma câmera usada barata, que pudesse “bater” sem dó, levando-a a todos os lugares aonde fosse sem ter grandes preocupações com danos ou roubo. Nada de camerinha nova que dá medo de riscar o LCD, na qual ficasse passando uma flanela obsessivamente, ou que à noite inspirasse pesadelos de que ela caiu no chão ou entrou poeira no sensor.

Tanto Canon como Nikon oferecem para os amadores dois tipos básicos de corpos de DSLRs: um maior e um menor. As Nikons menores são as que têm quatro dígitos no nome (exceto D7000 e D7100). As Canons menores são aquelas denominadas Rebel nos mercados americano e latino-americano.

Cada marca tem suas particularidades quanto à ergonomia, mas tanto uma como outra concebe as câmeras maiores como “cheias de controles externos” e as menores como “sem muitos controles”. A razão disso é que as menores são imaginadas para serem usadas como “point-and-shoots” cujos usuários podem, eventualmente, “evoluir” – ou não! – para um uso menos automático, aplicando mais opções personalizadas. Ainda assim, várias funções avançadas úteis devem ser acessadas num menu, roubando agilidade. Já as câmeras maiores, embora ofereçam o mesmo nível de automação, são mais amigáveis para quem já sabe o que quer de uma foto em termos de diafragma ou obturador.

Além disso, unidades de flash dedicado e lentes grandes ficam muito melhor equilibradas nas câmeras maiores, além de elas oferecerem um verdadeiro apoio para a mão na empunhadura (muita gente acrescenta “grips”auxiliares a suas câmeras pequenas, pois elas são ruins de pegada, tanto Canon como Nikon).

Eis, pois, o chamado trade-off ou dilema a ponderar: se você adquire uma das câmeras menores, ela funciona perfeitamente nos modos mais automáticos, mas assim que você se aprofunda na técnica de captura, a falta de controles diretos começa a incomodar. Por que não ir logo então para o modelo grande, cujos controles estão nos mesmos lugares convenientes das câmeras “profissionais”?

Para completar o raciocínio, pense no seguinte: a geração anterior de câmeras maiores custa, usada, algo próximo ao que custa a geração atual de câmeras menores. Se o fornecedor for idôneo e o produto bem cuidado, o negócio pode ser atraente. E você ganha ergonomia e construção física superiores. Na Nikon existe um bônus adicional: as câmeras pequenas exigem lentes da série AF-S para efetuar foco automático, o que limita muito sua escolha de lentes para elas. Nessas câmeras, todas as lentes que não sejam AF-S necessitam ser focalizadas manualmente, o que é uma desvantagem clara em relação a suas concorrentes da Canon, nas quais qualquer lente EF pode ser usada sem distinção.

Em resumo: entre as novas pequeninas e uma câmera maior e um pouco mais velha da mesma marca, prefiro a segunda opção. Ela já produz boas imagens – não é por ter dois ou três anos de idade que sua qualidade “expirou”. Em segundo lugar, o corpo maior, tanto de Nikon como de Canon, é muito mais fácil de usar em mãos mais experientes, devido aos controles mais ergonômicos. Cumprindo o que prego, eu possuo uma Nikon D70 (igual à da foto que abre o artigo) e uma Canon 20D. São dois modelos antigos (ambos com 9 anos de idade), que ainda uso regularmente e com prazer.

Posto tudo isso, minha abordagem pode ser pragmática demais para o seu gosto. Por que, afinal, a sua primeira DSLR deveria ser um exemplar batido nos cantos e já meio cansado? Nada se compara à sensação do “unboxing” de um produto lindo e sofisticado como uma DSLR moderna. Fora que os modelos mais recentes são bem mais competentes para gravar vídeo que os da geração anterior. Se a sensação do novo for importante para você, tudo bem: vá fundo e se delicie com ela. Podendo pagar pelo privilégio, não irei me opor.